segunda-feira, 17 de junho de 2013

CASAL BOSS - A MOTA MAIS TUGA DE SEMPRE!




Hoje vou falar-vos um pouco da história da mota mais TUGA de sempre, a CASAL BOSS.

Historia - A Metalurgia Casal

A Metalurgia Casal foi a maior empresa Portuguesa do sector das 2 rodas. Nenhuma outra empresa conseguiu ter a capacidade produtiva e o numero de unidades vendidas da Metalurgia Casal.
Nenhuma outra empresa nacional conseguiu produzir motorizadas, motas, motores e alfaias agricolas em grande escala e com um motor de produção própria.

Regendo-se inicialmente pelo modelo Alemão da Zundapp, aproveitando e imitando o que esta empresa tinha de bem feito, a Casal conseguiu destacar-se da Zundapp e de todas as empresas nacionais, tornando-se uma marca respeitada tanto no mercado nacional como no mercado externo.


A Metalurgia Casal deveu o seu nome ao seu fundador, João Casal, e dele herdou todo o espirito empreendedor.

João Francisco do Casal nasceu em 1922 em Aveiro. Depois de deixar os estudos foi trabalhar para os caminhos de ferro em Peso da Régua. Em 1945, a convite de António Marabuto, fundou uma empresa de comercio de mercearias. Deixou mais tarde esta empresa e fundou outra do mesmo ramo. Foi através destas empresas que João Casal viajou regularmente à Alemanha, na tentativa de exportar produtos alimentares. Terá sido nestas viagens que terá tomado contacto com a enorme indústria motociclistica e automobilistica Alemã. Talvez tenha sido desse contacto com a indústria Alemã que João Casal tenha tido a ideia de construir uma empresa de motorizadas em Portugal.

Anos 50:
Em 1953, pede autorização ao governo Português para exercer a montagem de motorizadas com motor Zundapp, mas graças á enorme pressão exercida pela Famel e pela Vilar, o pedido é negado.

Anos 60
Em 1961, João Casal, dois irmãos e um primo, fundam a Casal irmãos e Companhia( mais tarde Veículos Casal).

Nesta oficina, monta, vende e repara motores Zundapp, que vinham desmontados para facilitar a sua importação. Para além disso, fabrica alguns ( poucos) componentes para esses motores.
Para vender os seus produtos, João Casal cria um circuito de distribuição que assegura a distribuição por tudo o país.

Em 1963, João Casal tenta pedir mais um alvará.

Parece que depois de ter visto o pedido para montagem de motorizadas negado, João Casal tenta dar um passo de cada vez, conquistanto a simpatia e o respeito dos governantes, para numa altura certa formular novamente o pedido para criação de uma fabrica de motorizadas.

Desta vez pede uma autorização para a construção de uma fabrica de carrectos para motores.
Quase todas as fabricas nacionais de motorizadas , protestam contra esse pedido, dizendo que mais um concorrente iria colocar em causa as fábricas já existentes.

Protestaram na altura as firmas: Famel; Quimera Alma; Pachancho ; Miralago e Rufino de Almeida.

João Casal pretendia fabricar motores Zundapp até 250cc sobre licença, com a maior parte das peças a serem produzidas em Portugal e as restante a virem da Alemanha, isto nos primeiros 2 anos.
Apesar do protesto de todas as outras firmas de motorizadas, João Casal consegue finalmente o alvará de construção de motores até 250cc.

Num golpe de sorte, o engenheiro Robert Erich Zipprich, director técnico da Zundapp, que sempre tivera uma boa relação com João Casal desde os tempos em que este representava os motores Zundapp para Portugal, não se conforma com a atribuição da licença de importação de motores Zundapp à Famel. Por este motivo, abandona a Zundapp e vem trabalhar para Portugal para a Casal.
Em 1965 é aumentado o capital social da empresa com o intuito de se começarem a produzir os motores Casal.

A firma passa de um capital social de 6 000 contos(30 000 euros) para 30 000 contos( 150 000 euros).
Em Junho de 1966 inicia-se a produção do motor Casal e alguns meses mais tarde inicia-se também a produção da scooter Carina (inspirada na Zundapp R50).
Esta scooter veio satisfazer um nixo de mercado de scooter's de baixa cilindrada.
Recorde-se que nesta época haviam muitos produtores de scooter's, mas quase todos produziam scooter's com mais de 125cc.

Entre esses construtores, a Piaggio com a sua Vespa, foi sempre a marca mais acarinhada pelo publico.
Em 1967 são lançados os motores M151 e M148, e a motorizada K160.
Iniciaram-se estudos para produção de novos motores e motorizadas.
Foi ainda neste ano que que se iniciaram contactos com vista a exportação de prdutos para o continente Africano ( peninsulas ultramarinas Portuguesas), continente Europeu ( Holanda e Dinamarca)
A Metalurgia estaria exposta nas feiras de Juanesburgo e Milão.

Em 1968 é lançado o moto atomizador agricola e a motorizada K163.

Em 1969 é lançada a motorizada K181, que tinha como trunfo principal a estrutura superior fundida em liga leve de aluminio.
São mostrados protótipos de motores de 50cc automáticos, 75cc e 150cc.
A empresa começa a concorrer com a Famel e a Vilar, no mercado para a produção de jantes de aluminio para motorizadas .

Anos 70:

Em 1970 é apresentada na Feira De Março em Aveiro, a K260, uma mota de 125cc que é posta á venda em 1972.

Em 1972 sente-se um pouco os sinais de uma pequena recessão nos lucros na empresa, devido aos aumentos salariais dos empregados e aumento das matérias primas.

A concorrencia por parte de pequenos montadores que conseguiam produzir mais barato, e por consequencia vender mais barato, vêm agravar os problemas da Metalurgia Casal.
Outros factores foram o aumento da concorrencia de motores de origem estrangeira e a obrigação do uso do capacete.

Em 1973, é posta á venda a Casal K270 de 125cc. Para assegurar a sua fiabilidade, foi efectuado um teste em estrada com a duração de 15 000 km em 48 dias, em que foram atravessados os seguintes países:
Portugal, Espanha, França, Itália, Jugoslávia, Bulgaria, Turquia, Grécia, Austria, Alemanha, Suiça, Dinamarca, Suéçia, Holanda e Belgica.

Ainda em 1973, Holanda, Dinamarca e Estados Unidos da América tornam-se bons mercados para exportação dos produtos Casal.

Em 1974, o Jornal Motor, transcreve um teste feito por uma equipa de técnicos Franceses, que ficaram maravilhados com a motorizada K187S, comparando as suas performances às de uma mota de 125cc.
Pós 25 de Abril : A queda do regime fascista governado na altura por Marcelo Caetano, é muito prejudicial á Metalurgia Casal e ás outras indústrias nacionais de motorizadas.
Com a queda do já referido regime fascista, acaba o proteccionismo aos produtos nacionais, e Portugal é invadido pelos modelos mais bonitos, tecnologicamente mais desenvolvidos e mais baratos dos construtores Japoneses.

Quando se implementassem na Europa, os preços baixos seriam aumentados paulatinamente.
A própria instabilidade politica que se vivia na altura com o pós 25 de Abril, apesar de ter sido pouco sentida, também ajudou a prejudicar a firma.

O preço das materias primas sobe e os ordenados também.

Os produtos da Metalurgia Casal vão perdendo competitividade.

Anos 80:

Os anos 80 deveriam ter sido de reestruturação da empresa.

Com a entrada na CEE em 1986, o poder económico dos Portugueses aumenta , e a motorizada do chefe de família é encostada de vez na garagem, para dar lugar ao automóvel.

Apesar deste processo ter-se começado a dar já no final dos anos 70, a entrada na CEE veio permitir uma melhor condição de vida a muitas famílias e este fenómeno da troca da motorizada pelo automóvel foi mais evidente.

Essa troca é compreensível pois o automóvel é mais seguro, leva mais pessoas e protege as mesmas da chuva .

A motorizada começou a ser o meio de transporte escolhido pelos jovens.

Modelos inspirados na competição, tais como as Honda NSR 50cc e 125cc, entre outras, levavam os jovens ao delirio.

Estes modelos eram bem diferentes dos envelhecidos modelos Casal, e as vendas foram caindo.
Destaque para o lançamento da Casal K276, uma mota de Enduro com 125cc, de linhas muito bonitas. Foram vendidas bastantes para os CTT.

Anos 90:

Na década de 90, a Metalurgia Casal continuou com a mesma linha de modelos envelhecidos, apesar da ténue tentativa de mudança, realizada ao lançaram-se estes 2 modelos: A Casal Magnum e a Casal Arizona.
Tinha-mos então, os seguintes modelos para venda ao publico:
Casal K168 Boss e Super Boss;, este modelo foi um autentico campeão de vendas, produzido durante quase 20 anos, conseguindo assumir vários papeis e serviços.

Desde a motorizada que levava o trabalhador ao emprego, a motorizada que levava o jovem à escola, o parceiro de trabalho do carteiro, até ao veículo do entregador de Pizzas. Foi sempre muito amada e quase todos os Portugueses podem dizer que já guiaram uma.

Casal K181, uma motorizada com design bastante desactualizado;
Casal K500 Crossit, uma trail automática com 2cv de potência ;
Casal K554 RZ50, uma motorizada pouco virada para os jovens, com bastantes semelhanças à Macal M83. As letras RZ, provavelmente seriam as iniciais do nome do Engenheiro Alemão Robert Ziprich, pelo que deveria constituir uma homenagem ao falecido Engenheiro, que tanto fez pela Metalurgia Casal.

Casal K556 Magnum, uma motorizada muito bem conseguida. Bonita, com um design bastante jovem e fresco, potente, com 5 velocidades e 7.5cv ás 7500rpm.
Foi inspirada na Suzuki Wolf ( na altura a empresa Veículos Casal, era o importador dos motociclos e ciclomotores da marca Suzuki), uma motorizada sem grande "personalidade", mas que a Casal conseguiu interpretar de maneira bem mais interessante.
Casal K558 Arizona, uma trail com um design muito estilizado. Era uma ideia interessante, pois a motorizada poderia andar tanto em asfalto, como em pistas de terra.

Em Maio de 2000, surge a noticia de que um grupo de crédores iriam recorrer a via judicial para exigir a falência da Casal.

Surge ainda a noticia da destruição dos arquivos da Metalurgia Casal por parte do Carrefour. Ao mandarem destruir o edificio onde estava o arquivo da Casal, perdeu-se assim um importante testumunho de uma empresa que marcou o país. Projectos de motorizadas produzidas, ou de protótipos que nunca passaram à produção, como por exemplo o projecto do automóvel Casal ou o projecto do motor nº 2 que bateu um record do mundo de velocidade, entre outros, até ás fichas dos funcionários, ter-se-á perdido todo o espólio conservado durante 40 anos.

Em Março de 2004, volta-se a acender a chama da esperança. Surge uma noticia no Jornal de Noticias a dar conta da troca de galhardetes entre o Presidente da Cãmara Municipal de Aveiro, antigos funcionários da Casal e novos investidores interessados na Casal.
Os antigos funcionários da Metalurgia Casal, assim como os novos investidores interessados na Casal ( Nuno Figueiredo, Arménio Lima, Jasmim Neto e a Fundador), acusam a Cãmara Municipal de má fé, visto ter vendido o terreno prometido para instalar a nova fábrica da Metalurgia Casal à Vulcano.
Os ex -trabalhadores da Casal sentem que esta é a derradeira oportunidade para reaverem os seus postos de trabalho, visto que se estão a acabar os subsídios de desemprego e será muito dificil arranjarem emprego devido à sua idade.

A nova fábrica empregaria cerca de 70 ex-trabalhadores da Casal.

Do outro lado da barricada, o Presidente da Cãmara Municipal de Aveiro, Alberto Souto Miranda, refere que o projecto não existe, e que se estão a aproveitar da boa fé dos ex-trabalhadores da Casal.

O certo é que já não há moldes nem máquinas para se produzirem motorizadas, pois estes infelizmente foram vendidos a um sucateiro. Como e o que é que iria produzir esta nova fábrica da Metalurgia Casal?

Está então contada mais ou menos a historia do maior fabricante de motorizadas e motas nacional, que apesar de ter tido grande fama em Portugal e de ter sido respeitada no estrangeiro, não lhe poupou o facto de ter falido com quase 2.8 milhões de contos de prejuizo ( 14 milhões de Euros), entre banca, segurança social e fornecedores, e de ter sido saneada de todas as formas possiveis, tendo até perdido o seu arquivo que tinha sido guardado durante 40 anos. Muito pouco respeito por uma empresa que tanto deu a Portugal......





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